5 de novembro de 2008

Quem é o autor? quem é o cantor? quem mexeu no meu queijo?...

É difícil escapar dessas perguntas: quem fez isso?; quem fez aquilo?; quem é o sujeito da ação? ou melhor o que há por trás desse sujeito da ação, que possa explicar determinada ação? Percebo que hoje em dia, cada vez mais, se busca apronfundar os acontecimentos, com o intuito de trazer a tona a verdade deste. E nesse movimento pontos de problematização importantes se perdem numa busca por uma Verdade, a qual resumiria tudo o que se passou. Posso dar exemplos bem próximos a nós acadêmicos, mas que nos passam tão distantes. Vamos ao exemplo:

- Desde a semana passada a UFS, ou melhor, uma parte da reitoria foi ocupada por um grupo de estudantes tanto do campus de São Cristóvão, quanto de Laranjeiras, motivados por uma deficiencia, senão, descaso, da política implementada pela reitoria quanto a assistencia estudantil voltada aos estudantes, residentes, do campi de Laranjeiras. Só pra se ter uma idéia, os residentes de Aracaju recebem um bolsa de aproximadamente R$ 720,00 para manter o local onde vivem: comprar alimentos, pagar agua, luz, telefone...os residentes de Laranjeiras recebem algo em torno de R$ 400,00 para se manter, sendo que existem residencias por lá que comportam até 9 estudantes. Estes estudantes, já há um tempo, demonstram que esse dinheiro não é suficiente, levaram a conhecimento da responsavel por distribuir e administrar essas bolsas planilhas nas quais expoem a insuficiência. Segundo as informações que tive de alguns estudantes, essa pessoa responsável não está de acordo com o que vem sendo apresentado pelos residentes e ainda, promove perseguiçao a aqueles que são mais persistentes nas cobranças, tendo até suspendido uma das bolsas...bom, pra nao delongar mais essa historia, porque quero pegar um ponto dela, eu fui ver como andavam as discussões sobre essa temática na comunidade da UFS no Orkut. E qual foi minha "surpresa" ao ver que nao havia discussão. Um dos estudantes envolvidos na manifestaçao postou informações sobre o que estava ocorrendo, porém o que mais se discutiu não foi sobre a política de assistência estudantil da UFS, ou a perseguição, mas sim sobre o apelido usado por esse estudante em seu perfil do Orkut: "Nazi"...as pessoas falavam coisas do tipo "como vou dar atenção a um tipo de manifestaçao dessas se quem a está informando é alguem com alcunha de Nazi, que deve ter algo a ver com Nazismo?"...e por ai se tomou a discussão...passaram a falar do passado de alguns integrantes, do que eles fazem cotidianamente, como se vestem, bla bla bla....Como falei, em nenhum momento alguém partiu pra discutir o que vem acontecendo em nossa universidade há um tempo, desde a implementaçao dessa politica de expansão, REUNI e o escambal..que tipo de efeitos isso está produzindo no modo de funcionar da universidade, que tipo de corpo, seja docente, discente, tecnico (pouco importa) está sendo produzido...

Com esse exemplo, queria trazer para mais próximo de nosso cotidiano as discussões que nos atravessaram na noite de ontem e outras noites...venho percebendo, não só em nossos encontros, como em outros, que nos parece difícil fazer esse tipo de exercício. Apesar de fazermos questinoamentos sobre modos de vida diversos, mas a vezes nos falta ou nos passa batido, nos aproximar do que nos está proximo, mas distante...claro que não quero aqui desqualificar o que estamos ha um tempo problematizando. Mas penso que autores que nos são mais atravessados, como Foucault, Deleuze, Guattari, etc, tinha esse tipo de movimento nos exercicios de pensamento deles, de partir de algo que os estivesse mais próximo, pra poder problematizar os modos de vida aos quais estavam imersos. Acho que como Dago trouxe ontem, não basta só entender o que eles quiseram dizer com determinado conceito, mas de que forma ele pode funcionar no meu modo de vida, seja no trabalho, na universidade, no meio de uns agarros, etc.. e acho que pra isso é preciso que nos atentemos mais ao que nos rodeia. E muitas das vezes acabamos que indo "para além do que se vê" para fazermos determinada discussão. Quando estavamos discutindo a proposta da disciplina, fui bem enfático na minha contraposição quanto ao voltar ou nao para os textos passados, porque achava que esse movimento minaria essa atençao para o que estava nos rodeando naquele momento e que achava - e de certa forma ainda acho - que nos estava escapando. Estajamos atentos, então hehehe.


blog do movimento da ocupaçao: http://ocupacaoufs.blogspot.com/

29 de outubro de 2008

Será que é assim?

Suponhamos uma família pobre e uma criança nela habitando. Não há comida. Para a criança, há sensação desagradável que logo cedo chama de fome e vontade de comer. Não há avaliação. Há reclamos, choramingos, que a depender da mãe, da família, recebe porrada ou compreensão, pequenas e poucas palavras de afago para que possa suportar a dor. Engana-se o estômago. papel ou barro. Não há explicação. A criança sente. Sente e reclama. É do vivo sentir. Não há explicação. Não há transcendência. A criança vive na imanência das sensações e dos seus efeitos corporais. Alguém então diz: você nasceu para o sofrimento. É uma explicação. O mundo das idéias começa a ser habitado. Nasceu para o sofrimento. Mas no plano do corpo não há sofrimento, há sensações. A própria sensação da fome. Um vazio, um silêncio. Algo dentro que se filia a um fora que rápido pode ser esquecido levado pelo brinquedo. Mas os adultos podem derramar desde cedo nos ouvidos das crianças transcendências, explicações. Normalmente é assim. E normalmente derramam uma explicação negativa da vida, derramam uma linguagem negativa da existência: um mar de dor e sofrimento. Mas trata-se apenas de uma explicação, de uma transcendência, de uma composição de idéias. E tudo isso a golpes de quê? Às vezes de força, às vezes de ritornelos laureados de carinho e lamentos. Produz-se e socializa-se um modo negativo de sentir a vida e de vivê-la.

27 de outubro de 2008

O Corpo sem Órgãos e a articulação com conceitos de Carlos Castaneda

Depois de muito tentar fazer o login com uma senha que já não recordo mais, re-fiz essa representação tecnológica para re-tornar às discussões e exposições desse espaço virtual/produtivo. Passo por aqui já me antecipando um pouco, se formos falar de tempo novamente tenho o receio de repetir os mesmos argumentos já antes postados por colegas, mas enfim, falar sobre o corpo e o movimento me ficou mais fácil quando re-li o trecho de Mil Platôs volume 3 onde Deleuze e Guattari falam sobre o Corpo sem órgãos, prefiro me ater somente às discussões em torno das obras e dos conceitos de Carlos Castaneda autor que esses últimos fazem referência no capítulo da obra supracitada. Nessa articulação de conceitos o que Deleuze e Guatarri preferem destacar na obra de Castaneda é a relação entre o tonal e o nagual, desenvolvida em Porta para o Infinito. O tonal, diz Castaneda, ou diz Dom Juan, ou diz Castaneda através de Dom Juan, é o organismo, a organização, o significado, o que pode ser explicado, interpretado, e também o Eu pessoal. "Numa palavra", dizem os autores, "o tonal é tudo, inclusive Deus, o juízo de Deus, visto que ele 'constrói as regras por meio das quais apreende o mundo, logo ele cria o mundo, por assim dizer'."
No entanto, mesmo sendo tudo o que faz parte da nossa realidade, realidade que ele mesmo constrói com suas regras e organizações, o tonal não passa de uma ilha no oceano do nagual: "Porque também o nagual é tudo. E é o mesmo todo, mas em condições tais que o corpo sem órgãos substitui o organismo, a experimentação substitui toda interpretação, da qual ela não tem mais necessidade."
É o tonal que fabrica os estratos. "O nagual, ao contrário, desfaz os estratos. Não é mais um organismo que funciona, mas um Corpo sem Órgãos que se constrói." O ponto que Dom Juan, ou Castaneda através de Dom Juan, ou Castaneda, enfim, o ponto que ele frisa e que parece importante aos autores sublinhar é que o tonal não pode, não deve ser destruído de um único golpe, mas aos poucos. "Porque um nagual que irrompesse, que destruísse o tonal, um corpo sem órgãos que quebrasse todos os estratos, se transformaria imediatamente em corpo de nada, autodestruição pura, sem outra saída a não ser a morte.
Don Juan tenta convencer Castaneda de que o Tonal pode ser mais ou menos fluido, mas o segundo está distraído demais com seu conjunto de problemas conceituais e epistêmicos. Segundo don Juan, o verdadeiro problema do antropólogo é que ele crê dispor de muito tempo. Todos nós, homens comuns, temos o mesmo problema. O Tonal não quer assumir que o seu reinado é passageiro, e por isso nos apegamos a nossa duração. Nós, Tonais Individuais, estamos presos ao Tonal de nosso Tempo. Sejamos ainda mais enfáticos: nós ocidentais estamos presos à idéia de tempo . assim como à idéia de espaço, de eu, de corpo, de alma, etc.... de nosso Tonal
Coletivo.
Sinceramente espero não ter me distanciado muito do cerne das discussões do grupo/blog, mas a reflexão sob essa ótica facilitou para mim o entendimento de conceitos outros que talvez, vistos/experimentados sob outros olhares se tornem mais próximos.
Asta la Vista!!

18 de outubro de 2008

Alcool e outras drogas na contemporaneidade.

Nessa ultima terça começamos nossas rodas de conversas sobre as temáticas que, nós alunos, propusemos. Como primeiro tema tivemos "Álcool e outras drogas na contemporaneidade". Foi uma discussão muito legal e muito proveitosa. Creio que conseguimos trazer para a discussão variados pontos que atravessam essa questão. Mas teve um que para mim acabou sendo pouco explorado e que por esses dias fiquei remoendo ele e resolvi escrever por aqui, até para dar uma reavidada nesse nosso espaço de discussão.

Sempre que me pego pensando nessa temática, um dos pontos que gosto de discutir é sobre a relação que se estabelece entre o usuário e a droga - Desde já quero deixar claro que quando estiver usando a palavra droga, estou me referindo a substancias psicoativas ou narcoticas, como o alcool, maconha, crack, etc... Como se dá isso? O uso de qualquer substância que venha a provocar uma modificação no funcionamento de um corpo requer que este tenha um outro tempo para vivenciar essa experiência. E é nesse ponto que quero fazer minha viagem.

As experiências com drogas em outros tipos de sociedades perpassam todo um ritual, toda uma preparaçao de um corpo para passar por esse tipo de vivência. Sejam rituais xamánicos, do saint-daime...esses utilizam-se das substancias alucinogenas para entrar em contato com seus guias espirituais..mas nao é bem disso que quero falar. Ao entrar nessa vivência, o tempo que cotidianamente eles estao acostumados a "seguir" é, vamos dizer, desprezado. Outra forma de encarar o tempo é construída. Um tempo que permita uma relação entre usuário e substancia, onde estes possam produzir algum sentido frente àquela experiência. O uso da droga está ligado a esse tempo, a um certo espaço (nao necessariamente geográfico, produz-se espaços múltiplos de passagem desses corpos) e de uma certa forma já se tem um sentido prévio para o uso.

No nosso modo de viver, vejo essa experiência como diferente. Cada vez mais nos é exigido um ritmo de vida no qual devemos está constatemente fazendo upgrades do que nos dizem ser importante para vivermos: é adquirir o novo mp7; o mais novo laptop da dell, com windows vista (q por sinal é uma bosta hehhe); saber como está a cotaçao da bolsa de tóquio (sendo assim, é bom ficar acordado de madrugada para acompanhar o pregão hehe); quem é o mais novo ídolo das telinhas; e por ai vai...vivemos num ritmo cada vez mais veloz, onde as coisas nos chegam cada vez de uma forma mais fácil e cômoda, porém da mesma forma que nos chegam, elas se vão. Passamos pelos espaços que nos rodeiam, mas não percebemos, não afetamos e nem somos afetados por eles. É como se toda essa velocidade imposta pela forma que vivemos produzisse cada vez mais corpos que somente passam, não se olham, não se cheiram, não se tocam. Afinal essas coisas exigem dos corpos um tempo que não se permite mais perder. Time is money...e money, it's a hit já diria Roger Waters e a galera do Pink Floyd...e é ai nisso que vejo uma das grandes questões referentes a problemática que envolve o uso de algumas drogas. Tempo!!

Drogar-se exige um outro tempo que não o que se está instituído. A experiência com a droga nos possibilita entrarmos ou produzirmos outros tempos, outros espaços...mas como vivenciar isso, se estamos acostumados a um tempo imediatista, onde nada pode ser desperdiçado? Se temos como forma de vida uma base no tempo imediatista, vamos esperar que nossas experiências, sejam elas relacioanadas a drogas, amizade, sexo, estudos, vão pelo mesmo caminho. Por isso que vejo que não é a toa o sucesso de drogas como o crack, onde o efeito se dá de uma forma imediata e com um força incrível. Posso dizer que tem muito a ver com o modo que vivemos ou somos disciplinados a viver, onde as coisas perdem uma potencia de produção de sentido, mas ganham uma força de uso e abuso, só que de uma forma não nos mexamos, que fiquemos em nossa posição cômoda e passiva.

"The time has gone, the song is over"
só que no meu caso acho que, por enquanto, não tenho mais nada a dizer :P. Espero o comentário de quem lê isso aqui.


P.s.: quem quiser ler isso ouvindo o Dark Side of The Moon do Pink Floyd, acho que seria uma boa heheheh


23 de junho de 2008

Prisões do Eu

Participar do encontro do dia 17/06 para mim foi desterritorializante. Afetações em diversos pontos( inclusive, deu uma certa tonteira durante a aula. Será que ainda não me recuperei da cirurgia que fiz?). Senti –me atordoada com as várias questões lançadas. Não por desconhecê-las, mas por ainda serem carregadas de forças que me tiram o chão.

Tais discussões sobre as práticas psi, metodologias e a produção de autonomia que me trouxeram à disciplina de mestrado. O interesse que elas despertam em mim não é recente. Contudo, a oportunidade de produzir coletivamente outros olhares, intensificar forças capazes de produzir não “a verdade”, mas discursos interessantes (como disse Deleuze) havia ficado menos potente ao longo de algum tempo. . .

Havia decidido escrever algo para entregar a Kleber como produção, em virtude de minha ausência no dia 10/06. Mudei a decisão. Sai da aula no dia 17/06 sem nenhuma vontade de fazer aquele texto (preguiça? desinteresse com a disciplina? Identidade de boa aluna caindo por terra?). Sentia-me despotencializada, quando pensava em produzir algo para dar uma satisfação a autoridade do saber (professor). Fui me inquietando mais e mais com o passar dos dias ( o movimento produziu agenciamentos outros e comecei criando algo). Senti vontade de postar algo no blog. Por que não?

Paro de refletir e agora escrevo. Intensidade que me põe a vomitar essas impressões, fluxos, sem definição, sem forma, sem preocupação de chegar a algum lugar agora. o ser, sem Ser. Um intercessor: entrevista de Deleuze (sugestão de Maurício) e o discurso de Claudine (aula de Kleber). Vontade moldando e sendo moldada por ele. Força que potencializa e me tira do lugar identitário “aluna cumpridora do dever” e abre-se para a insônia, para a inquietação. Desenho. Rabisco e agora escrevo.

Outro intercessor: Nicolas Rose - Kleber. Que dobras se constituem hoje? Qual o papel exercido pelas psicologias nesses dobramentos? O eu/realização, para ele, é o aspecto do ser humano instaurado corporalmente nessa forma psi. Multiplicidade de máquinas miméticas (por Taussig) que, há pelo menos um século, apresenta uma dimensão terapêutica muito afirmativa.

Todo discurso construído no início desse texto, que expõe esse funcionamento de fazer falar o “mundo interior”, relação terapêutica com nós mesmos, observando, avaliando, atribuindo valor e autoridade. Esse desconforto entre as experiências vividas e as imagens de liberdade e de eu desejadas, produziria diversas obrigações éticas de realização.

Uma dessas relações foi exemplificada por Cruikshank, em Rose, por meio da noção de auto-estima. Ela funcionaria como uma inovação que transforma a relação de si para consigo em algo governável. Então, Rose aponta para uma certa racionalidade psicológica que têm contribuído para a construção de códigos morais, em uma dimensão terapêutica, que vem sendo acoplada a programas de produção de individualidades tão caras à contemporaneidade.

Sentindo “o rachar desse espaço de interioridade que foi uma vez seguro, o desconectar de algumas linhas que formaram esse diagrama, a possibilidade de que, mesmo que não possamos desinventar a nós mesmos, possamos ao menos reforças a questionabilidade das formas de ser que têm sido inventadas para nós e começar a inventar a nós mesmos de forma diferente” - Rose.

Inquietação e potência. Experimentação e nem sempre criação...

18 de junho de 2008

Ditos e Escritos: Observações e Comentários sobre a aula.

Acerca da aula de ontem podemos fazer algumas considerações: muito foi dito pelo que foi escrito, e muito pouco foi escutado.
Vamos por partes.
Na primeira parte da aula foi posto em questão se o aluno Salomão ( que ora escreve este texto) gostaria que seu texto intitulado (Dês) construindo nossos eus: Como alguém se torna o que se é, poderia ser lido em sala. Apois a leitura do referido texto, e o questionamento sobre o seu início, que se configurou, assim ficou claro, creio eu, que foi um equivoco(a questão sobre os “Gritos da Filosofia”) entramos propriamente no texto e sua provocação. O que de inicio ficou na questão da psicologia normalizadoras, que na sala não há adeptos (assim eu entendi, alguém pode me corrigir se minhas lembranças não forem fieis)e que esses ecos não produziriam efeitos(!). Ora, embora não haja tais psicólogos na sala(pois o texto não fala dos psicólogos desta sala, pois no texto não aponta aquele ou este psicólogo), mas não há esse tipo de psicologia? Não é esse tipo de psicologia que Foucault denuncia? Que o Maurício e a Liliana e o Kleber denunciaram em suas aulas? Imagino que a resposta para essas perguntas seja sim.
Em seguida o texto toca na questão do que é normal e anormal, onde recorro ao dicionário de filosofia. Nesta parte do texto, referência direta a Foucault, há um retorno a uma brincadeira em sala (a questão da carroça,) e dos gostos musicais (chupa que é de uva), depois da mulher como animal doméstico (a mulher não é um animal? Pois o homem é um animal racional, assim como a mulher,) etc. Ora, o que me causou espanto foi que estas questões, e as outras que elas suscitaram como os métodos, já foram discutidas em sala nas reuniões com o Maurício, sem grandes assombros. Agora a discussão versa sobre o método.
Para que um ramo do conhecimento se considere ciência é necessário “poder repetir os experimentos feitos e conseguir os mesmos resultados” (imaginando que Karl Popper tenha razão!). E isso se chama método. Acredito que aqui, em filosofia, e nos outros ramos do conhecimento. Eu não sou psicólogo, mas talvez alguns psicólogos concordem comigo é que: o que se observa na psicologia é que o objeto de estudo (mente humana, subjetividade ou mesmo o EU, enfim o homem) é muito complexo para que os métodos e equipamentos existentes hoje sejam capazes de determinar um resultado mais preciso. Essa busca de novos “processos de subjetividade” é necessária, pois o modelo de homem que temos hoje (calcado na razão, na substância) já é ultrapassado ou não responde mais às exigências do mundo moderno. Isto foi discutido, de forma magistral pela disciplina Tópicos Avançados em Psicologia Social e Política até agora.
“Como extrair um método (seja terapêutico ou simplesmente de investigação do sujeito) onde o próprio objeto de estudo (o sujeito) não pode ser capturado?” Onde o sujeito não é constante? Perguntei a Maurício em uma das aulas e perguntei ontem, embora também estivesse no meu texto. Essa pergunta não é pertinente?
Em seguida falamos sobre o sobre fronteiras discursivas, marcar território. Talvez esses "territórios" tenham sido defendidos não só por mim como por todos em sala, que participaram da discussão. O exemplo e a intervenção feita por Aldo (acho que esse é o nome dele) me fez lembra as palavras de Foucault: “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta, o poder de que queremos nos apoderar”. Foi dito, em um determinado momento na sala, que meu texto se alia ao que eu denuncio, ora não vejo dessa maneira. A proposta do Nietzsche (se minha hipótese estiver certa no meu projeto) é uma psicologia da experiência de si, Segundo Didier Eribon, em sua biografia de Foucault, a proposta de Foucault em suas obras também é essa (Cf.Michel Foucault uma biografia p.42).
Minha última intervenção (ou fala para não recorrer em erro discursivo) foi sobre a noção do bom encontro entre os gregos. Bom ou mau encontro está ligado à possibilidade de expansão ou de decomposição que sofrem os corpos a partir das ligações estabelecidas.
Para Nietzsche, o encontro em si não dita o que deve ou não ser feito, como deve ser feito, mas uma ética que faculta o pensamento frente às experiências vividas por cada um. É por aí que Foucault (segundo minhas leituras) ainda se ocupa na Hermenêutica do Sujeito, onde ele irá explorar em vários momentos da nossa cultura ocidental a noção de uma ética do cuidado de si. Um dos eixos da temática foucaultiana é a questão do sujeito, ponto de ruptura com a filosofia clássica e ao mesmo tempo ponto de articulação e debate com as formas de cuidado de si que a nova noção de sujeito reclama. Não sou psicólogo, o curso tópicos é do mestrado em psicologia. Talvez alguns do senhores lembrem que Deleuze era de formação Filósofo e Guattari também. Eles não tinham formação em psicologia. Sei também que o debate que tivemos ontem foi muito salutar, meus questionamentos(que versam sobre minhas inquietações, meu projeto e meus encontro com Deleuze, Foucault e sobretudo o Nietzsche) engendraram o que foi dito e escrito ontem e hoje, e, amanhã. Pois aprendemos com a filosofia,(e não precisa ser filósofo para aprender essa lição) que o real sempre está em construção, as inquietações estarão presentes, a menos que paremos de pensar. Talvez como o sol para Tobias Barreto e não para Silvio Romero.

11 de junho de 2008

(Des)construindo nossos eus: Como alguém se torna o que se é.

Dois conceitos gravitam na esfera daqueles que fazem ou estudam filosofia: 1º somos pedantes 2º prolixo. Quanto ao primeiro gostaria de propor uma reflexão.Quando uma pessoa que não é da área da medicina fala sobre doenças, ou problemas de saúde os médicos de plantão vão e corrigem. Ou mesmo um não psicólogo, faz se passar de um terapeuta ou dar voz a um problema da mente, os psicólogos saem em defesa de seu discurso, pondo uma “ordem do discurso” psicológico. Entretanto quando alguém de outra área fala sobre a filosofia e um filósofo tenta corrigir o pretenso discurso, ele é chamado de pedante. Ou “fazer gritar a filosofia”, para usar uma expressão que foi usada em sala.
Quanto a ser prolixo, muitas vezes, somos obrigados a discorrer sobre alguns temas, que estão na órbita do problema tratado para que possamos nos fazer enender. Bom tentarei não ser prolixo. Minha reflexão é sobre o Eu e seus agregados, em uma perspectiva filosófica.
As expressões do tipo “Eu sou.....”eu tenho eu faço,” frases como essas são vistas na sociedade como normal e comum de um sujeito, que fala a partir de um lugar. Muitas vezes esse lugar, o do sujeito que fala, é caracterizado como normalidade. Essa normalidade é produzida pelo discurso do falante. Com Efeito, anormal é aquele cujo discurso revela uma ausência de razão, portanto, segundo Foucault “O seu discurso deve ser interditado e não mais ouvido”. No Dicionário de Filosofia, Abbagnano define normal como "aquilo que está em conformidade com a norma"; "aquilo que está em conformidade com um hábito ou com um costume ou com uma média aproximada ou matemática ou com o equilíbrio físico ou psíquico".
Por conseguinte, poderíamos inferir que o normal é uma média do comum, ou de uma maioria. Assim sendo, se não reproduzirmos os hábitos ou costumes de nossa sociedade, seremos anormais? Quantas vezes hábitos, costumes, regras, leis de uma sociedade foram modificados? Historicamente há muitos exemplos: o papel da mulher na sociedade,(pois está deixa de ser um animal doméstico e passa a ocupar um lugar na sociedade ativa) a escravidão, os valores morais, as relações de trabalho, as formas de organização das sociedades... Numa mesma cultura são verificadas modificações no tempo, e num mesmo tempo é possível perceber claramente diferenças culturais regionais. Ao viajar por regiões diferentes de nosso pais, são observados hábitos, costumes diferentes(como o caso da carroça de Kleber!!!). As pessoas daquela região, por possuírem hábitos diferentes dos seus, são anormais? Você é anormal? Qual a norma à qual devemos estar em conformidade? Onde se centra essas questões? Segundo a filosofia nas noções de eu e seus correlatos; sujeito, identidade, etc.
A noção de “EU” tão cara para filosofia racionalista, que encontra sua gênese no pensamento grego e alcança vou na modernidade, sobretudo com o “cogito” cartesiano irá sofrer transformações ao longo do tempo, com Kant o eu é uma representação, ele representa as coisas, ele é responsável pelas condições de possibilidade do conhecimento(assim com as formas a priore da sensibilidade: espaço e tempo). Contudo o próprio eu é uma representação. Kant irá transforma-lo mais complexo e racional. Somente com Schopenhauer é que o eu e sua tradição sofrerão um abalo sísmico. Nietzsche, seu aluno seguirá sua linha. Nietzsche foi o principal desencadeador do ataque ao conceito idealista de sujeito que, desde então, só cresceu em vigor. Ele procedeu à primeira desconstrução da categoria, ao defender a hipótese de que "sujeito é a ficção que pretende nos fazer crer que os vários estados similares existentes em nós são efeito de um mesmo substrato" Segundo Nietzsche (VP 1906, p. 279).
Na Sala foi tocado nos níveis de nivelamento, ou ausência de autonomia, com alguns afirmando(chupa que é de uva e algo da mesma linha). Ora na sociedade contemporânea é, por estas questões mesmas(tapa na rajada !!!!!?) ambivalente: "As mesmas novas condições em que se produzirá, em termos gerais, um nivelamento e mediocrização do homem - um homem animal de rebanho, útil, laborioso, variadamente versátil e apto -, são sumamente adequadas a originar homens de exceção, da mais perigosa e atraente qualidade" Nietzsche(ABM, p. 150). De certo modo, possui um simulacro de cultura, porque falta lhe o homem sintético: o que temos é um tipo de caos; mas por outro lado, esse é condição para a criação daquele: [Afinal] "Tu [só] o serás depois de haver passado por um grande número de individualidades, de tal modo que, em função dela mesma, tua última individualidade tenha necessidade de todas as outras", escreveu Nietzsche.(VP, p.56) Para me alongar mais e “não fazer a filosofia gritar”, como foi dito em sala uma certa vez, gostaria de propor a seguinte reflexão: a transmutação do Eu(fazendo um trocadilho com as palavras do Nietzsche) precisa ser buscada no estatuto do sujeito, que, reavaliado pelo filósofo Nietzsche, deixa de ser visto como o eu abstrato, estático e unitário. O sujeito é uma entidade fictícia pois, vendo bem, a vontade com que está associado é um resultado de um combate ou luta através do qual se estabelecem relações de comando e obediência entre as várias partes do nosso corpo.
A premissa é o corpo e esse deve ser entendido como "uma estrutura social de muitas almas" segundo Nietzsche(ABM, p. 25)28. Com efeito, o que se coloca é a noção de eu, uma ficção e sua ausência também não seria uma ficção? Pois, como foi visto, o indivíduo, e seu agregados; eu, alma etc., deve ser visto como um "sistema cujo centro se desloca incessantemente". Isto traz a tona, o que para Nietzsche seria um problema para a psicologia e áreas afim; não havendo o eu e os seus correlatos, não haveria ciência do sujeito. A construção do eu seria ao mesmo tempo sua desconstrução. Ou vice-versa. Nesta perspectiva não estaríamos fazendo algo semelhante ao que Sêneca chamou de Nihil apenhis Nihil (,nada alem de nada). A Busca pelo patológico, pelo normal não estaria associado a grande acusação de Nietzsche para os psicólogos: “a psicologia sempre esteve presa aos preconceitos morais?” Nietzsche. Se somos responsáveis pelo mundo que construímos, assim como pelas formas de existência que criamos, necessitamos avaliar constantemente nossa própria (dês)construção. Por isso, nossas atividades, nossos valores, nossas leis, nossas normas modificam-se de tempos em tempos, a fim de acompanhar as mudanças originadas nesta construção. Da mesma forma, não deveria proceder e acompanhar essa transformação o aparelho psicológico?
Se no cotidiano, normal é considerado aquele que se submete à pressão das normas, que age como se espera; "anormal" é quem foge às regras, quem busca saídas criativas. E quando construímos socialmente uma norma de comportamento que traz malefícios? E quando seguir a regra implica em abandonar os sonhos que dão sentido à existência? O que fazer? Talvez a construção de novos “EUS” esteva precisando de uma construção de novas “Psicologias”? talvez tenha sido por isto que um filosofo(Nietzsche) tenha insistido em ser considerado o primeiro dos psicólogos dos bons.