27 de outubro de 2008

O Corpo sem Órgãos e a articulação com conceitos de Carlos Castaneda

Depois de muito tentar fazer o login com uma senha que já não recordo mais, re-fiz essa representação tecnológica para re-tornar às discussões e exposições desse espaço virtual/produtivo. Passo por aqui já me antecipando um pouco, se formos falar de tempo novamente tenho o receio de repetir os mesmos argumentos já antes postados por colegas, mas enfim, falar sobre o corpo e o movimento me ficou mais fácil quando re-li o trecho de Mil Platôs volume 3 onde Deleuze e Guattari falam sobre o Corpo sem órgãos, prefiro me ater somente às discussões em torno das obras e dos conceitos de Carlos Castaneda autor que esses últimos fazem referência no capítulo da obra supracitada. Nessa articulação de conceitos o que Deleuze e Guatarri preferem destacar na obra de Castaneda é a relação entre o tonal e o nagual, desenvolvida em Porta para o Infinito. O tonal, diz Castaneda, ou diz Dom Juan, ou diz Castaneda através de Dom Juan, é o organismo, a organização, o significado, o que pode ser explicado, interpretado, e também o Eu pessoal. "Numa palavra", dizem os autores, "o tonal é tudo, inclusive Deus, o juízo de Deus, visto que ele 'constrói as regras por meio das quais apreende o mundo, logo ele cria o mundo, por assim dizer'."
No entanto, mesmo sendo tudo o que faz parte da nossa realidade, realidade que ele mesmo constrói com suas regras e organizações, o tonal não passa de uma ilha no oceano do nagual: "Porque também o nagual é tudo. E é o mesmo todo, mas em condições tais que o corpo sem órgãos substitui o organismo, a experimentação substitui toda interpretação, da qual ela não tem mais necessidade."
É o tonal que fabrica os estratos. "O nagual, ao contrário, desfaz os estratos. Não é mais um organismo que funciona, mas um Corpo sem Órgãos que se constrói." O ponto que Dom Juan, ou Castaneda através de Dom Juan, ou Castaneda, enfim, o ponto que ele frisa e que parece importante aos autores sublinhar é que o tonal não pode, não deve ser destruído de um único golpe, mas aos poucos. "Porque um nagual que irrompesse, que destruísse o tonal, um corpo sem órgãos que quebrasse todos os estratos, se transformaria imediatamente em corpo de nada, autodestruição pura, sem outra saída a não ser a morte.
Don Juan tenta convencer Castaneda de que o Tonal pode ser mais ou menos fluido, mas o segundo está distraído demais com seu conjunto de problemas conceituais e epistêmicos. Segundo don Juan, o verdadeiro problema do antropólogo é que ele crê dispor de muito tempo. Todos nós, homens comuns, temos o mesmo problema. O Tonal não quer assumir que o seu reinado é passageiro, e por isso nos apegamos a nossa duração. Nós, Tonais Individuais, estamos presos ao Tonal de nosso Tempo. Sejamos ainda mais enfáticos: nós ocidentais estamos presos à idéia de tempo . assim como à idéia de espaço, de eu, de corpo, de alma, etc.... de nosso Tonal
Coletivo.
Sinceramente espero não ter me distanciado muito do cerne das discussões do grupo/blog, mas a reflexão sob essa ótica facilitou para mim o entendimento de conceitos outros que talvez, vistos/experimentados sob outros olhares se tornem mais próximos.
Asta la Vista!!

2 comentários:

Isabella Santana - artista visual e performer. disse...

PALOMA, FICO FELIZ AO SABER QUE VOCÊ TEM DESENVOLVIDO CONCEITOS REALMENTE BEM DIFÍCEIS E ABSTRATOS COMO OS DO DELEUZE. EU SOU SUSPEITA PORQUE ADORO AS CRIAÇÕES CONCEITUAIS DELE, MESMO SEM ENTENDER O QUE QUER DIZER. PARABÉNS PELO TEXTO, E ACREDITO QUE VC DEVE APROFUNDÁ-LO MAIS, DESENVOLVÊ-LO FAZENDO OUTRAS ARTICULAÇÕES. UM ABRAÇÃO DA MIAGA, BELLA!

Unknown disse...

eitcha que bom ler esse texto, coisas novas pra mim isso de tonal e nagual, adorei.