18 de outubro de 2008

Alcool e outras drogas na contemporaneidade.

Nessa ultima terça começamos nossas rodas de conversas sobre as temáticas que, nós alunos, propusemos. Como primeiro tema tivemos "Álcool e outras drogas na contemporaneidade". Foi uma discussão muito legal e muito proveitosa. Creio que conseguimos trazer para a discussão variados pontos que atravessam essa questão. Mas teve um que para mim acabou sendo pouco explorado e que por esses dias fiquei remoendo ele e resolvi escrever por aqui, até para dar uma reavidada nesse nosso espaço de discussão.

Sempre que me pego pensando nessa temática, um dos pontos que gosto de discutir é sobre a relação que se estabelece entre o usuário e a droga - Desde já quero deixar claro que quando estiver usando a palavra droga, estou me referindo a substancias psicoativas ou narcoticas, como o alcool, maconha, crack, etc... Como se dá isso? O uso de qualquer substância que venha a provocar uma modificação no funcionamento de um corpo requer que este tenha um outro tempo para vivenciar essa experiência. E é nesse ponto que quero fazer minha viagem.

As experiências com drogas em outros tipos de sociedades perpassam todo um ritual, toda uma preparaçao de um corpo para passar por esse tipo de vivência. Sejam rituais xamánicos, do saint-daime...esses utilizam-se das substancias alucinogenas para entrar em contato com seus guias espirituais..mas nao é bem disso que quero falar. Ao entrar nessa vivência, o tempo que cotidianamente eles estao acostumados a "seguir" é, vamos dizer, desprezado. Outra forma de encarar o tempo é construída. Um tempo que permita uma relação entre usuário e substancia, onde estes possam produzir algum sentido frente àquela experiência. O uso da droga está ligado a esse tempo, a um certo espaço (nao necessariamente geográfico, produz-se espaços múltiplos de passagem desses corpos) e de uma certa forma já se tem um sentido prévio para o uso.

No nosso modo de viver, vejo essa experiência como diferente. Cada vez mais nos é exigido um ritmo de vida no qual devemos está constatemente fazendo upgrades do que nos dizem ser importante para vivermos: é adquirir o novo mp7; o mais novo laptop da dell, com windows vista (q por sinal é uma bosta hehhe); saber como está a cotaçao da bolsa de tóquio (sendo assim, é bom ficar acordado de madrugada para acompanhar o pregão hehe); quem é o mais novo ídolo das telinhas; e por ai vai...vivemos num ritmo cada vez mais veloz, onde as coisas nos chegam cada vez de uma forma mais fácil e cômoda, porém da mesma forma que nos chegam, elas se vão. Passamos pelos espaços que nos rodeiam, mas não percebemos, não afetamos e nem somos afetados por eles. É como se toda essa velocidade imposta pela forma que vivemos produzisse cada vez mais corpos que somente passam, não se olham, não se cheiram, não se tocam. Afinal essas coisas exigem dos corpos um tempo que não se permite mais perder. Time is money...e money, it's a hit já diria Roger Waters e a galera do Pink Floyd...e é ai nisso que vejo uma das grandes questões referentes a problemática que envolve o uso de algumas drogas. Tempo!!

Drogar-se exige um outro tempo que não o que se está instituído. A experiência com a droga nos possibilita entrarmos ou produzirmos outros tempos, outros espaços...mas como vivenciar isso, se estamos acostumados a um tempo imediatista, onde nada pode ser desperdiçado? Se temos como forma de vida uma base no tempo imediatista, vamos esperar que nossas experiências, sejam elas relacioanadas a drogas, amizade, sexo, estudos, vão pelo mesmo caminho. Por isso que vejo que não é a toa o sucesso de drogas como o crack, onde o efeito se dá de uma forma imediata e com um força incrível. Posso dizer que tem muito a ver com o modo que vivemos ou somos disciplinados a viver, onde as coisas perdem uma potencia de produção de sentido, mas ganham uma força de uso e abuso, só que de uma forma não nos mexamos, que fiquemos em nossa posição cômoda e passiva.

"The time has gone, the song is over"
só que no meu caso acho que, por enquanto, não tenho mais nada a dizer :P. Espero o comentário de quem lê isso aqui.


P.s.: quem quiser ler isso ouvindo o Dark Side of The Moon do Pink Floyd, acho que seria uma boa heheheh


3 comentários:

Kleber disse...

Uma boa conexão para conversar sobre as drogas; o tempo. Uma conexão móvel, que retira o ritmo da vida instituída. A qual, entretanto, parece ser necessário retornar. O lance é essa tendência terrível a instituir o móvel, que desenvolvemos como uma tecnologia de sobrevivência moral. Talvez até o sol tenha um lado negro para onde possa fugir, de quando em vez. Abraço!

Unknown disse...

Eu penso também que nessa coisa de consumir a droga há uma necessidade de produzirmos outros tempos,o que até acho bom, muito bom.
Penso que essa necessidade poderia estar presente em qualquer momento da história e pra qualquer droga desde de um cigarro a um caximbo de craque, todo vez que consumimos essas substâncias há uma necessidade de produção de outros tempos( penso que a dependência é na verdade a tentativa de produzir um outro tempo por não suportar um determinado tempo0 e mais, que nesse caso do consumo dependente a busca não é de outros tempos mas de um mesmo outro tempo, o que já não acho tão bom, porque é uma forma de continuar buscando o mesmo tempo, assim como quem não usa droga nenhuma para se manter sempre no mesmo tempo, no previsível).
Talvez na contemporaneidade a necessidade seja mais uma urgência e o ritual seja mais individualizado e mais rápido. Talvez também ao longo da história essa unificação da idéia de tempo e ser para todos, tenha tornado o consumo de droga algo tão condenável por produzir outros tempos e seres que não os previstos.

Marcelo dos Santos Ribeiro disse...

Boa tarde a todas

Li o texto, gostei da reflexão apontando para a questão do tempo. Fiquei a pensar sobre o uso para o trabalho, por exemplo: Cortadores de cana no interior paulista são usuários de crack de maneira funcional, usam durante a dura rotina do corte de cana.
Empresários/executivos com uma demanda de tempo curto e necessidade de maior tempo acordados lançam mão de cocaína, anfetaminas, outros estimulantes para produzirem durante mais tempo.

Enfim, pensar na questão tempo também exige um olhar para as necessidades de uso.
Um autor da área do Lazer vai trazer uma reflexão interessante quanto ao tempo, onde apresenta um tempo novo, o tempo das necessidades... desempregado, empregados informais, moradores de rua... tempo utilizado para a busca de sobrevivência a partir desta situação. Aqueles que já estão em condição de uso abusivo e vivem em função da droga se enquadram nesse tempo???
Enfim, vejo que tal tema nos remete a questões, amiúde, urgentes e insurgentes, que precisam ser pensadas em voz alta!
Outra questão levantada pelo texto diz respeito à nossa forma de organização de social, onde o ritmo acelerado da produção de bens de consumo e por outro lado o ritmo mais acelerado ainda de consumo desses bens, faz com que nosso tempo "individual" (se é que isso exista) acaba sendo voltado para a manutenção do consumo, ou pela busca da possibilidade do consumo. (fetiche da mercadoria, o objeto droga também é fetichizado?)
O tempo do uso/efeito da droga esta diretamente ligado a este contexto de consumo.
O sentido do uso não está mais ligado a um "tempo livre" em ritual, mais sim às brechas que se tem para dar uma "aliviada".
Bom, foram palavras ao vento.

Abraço