11 de junho de 2008

(Des)construindo nossos eus: Como alguém se torna o que se é.

Dois conceitos gravitam na esfera daqueles que fazem ou estudam filosofia: 1º somos pedantes 2º prolixo. Quanto ao primeiro gostaria de propor uma reflexão.Quando uma pessoa que não é da área da medicina fala sobre doenças, ou problemas de saúde os médicos de plantão vão e corrigem. Ou mesmo um não psicólogo, faz se passar de um terapeuta ou dar voz a um problema da mente, os psicólogos saem em defesa de seu discurso, pondo uma “ordem do discurso” psicológico. Entretanto quando alguém de outra área fala sobre a filosofia e um filósofo tenta corrigir o pretenso discurso, ele é chamado de pedante. Ou “fazer gritar a filosofia”, para usar uma expressão que foi usada em sala.
Quanto a ser prolixo, muitas vezes, somos obrigados a discorrer sobre alguns temas, que estão na órbita do problema tratado para que possamos nos fazer enender. Bom tentarei não ser prolixo. Minha reflexão é sobre o Eu e seus agregados, em uma perspectiva filosófica.
As expressões do tipo “Eu sou.....”eu tenho eu faço,” frases como essas são vistas na sociedade como normal e comum de um sujeito, que fala a partir de um lugar. Muitas vezes esse lugar, o do sujeito que fala, é caracterizado como normalidade. Essa normalidade é produzida pelo discurso do falante. Com Efeito, anormal é aquele cujo discurso revela uma ausência de razão, portanto, segundo Foucault “O seu discurso deve ser interditado e não mais ouvido”. No Dicionário de Filosofia, Abbagnano define normal como "aquilo que está em conformidade com a norma"; "aquilo que está em conformidade com um hábito ou com um costume ou com uma média aproximada ou matemática ou com o equilíbrio físico ou psíquico".
Por conseguinte, poderíamos inferir que o normal é uma média do comum, ou de uma maioria. Assim sendo, se não reproduzirmos os hábitos ou costumes de nossa sociedade, seremos anormais? Quantas vezes hábitos, costumes, regras, leis de uma sociedade foram modificados? Historicamente há muitos exemplos: o papel da mulher na sociedade,(pois está deixa de ser um animal doméstico e passa a ocupar um lugar na sociedade ativa) a escravidão, os valores morais, as relações de trabalho, as formas de organização das sociedades... Numa mesma cultura são verificadas modificações no tempo, e num mesmo tempo é possível perceber claramente diferenças culturais regionais. Ao viajar por regiões diferentes de nosso pais, são observados hábitos, costumes diferentes(como o caso da carroça de Kleber!!!). As pessoas daquela região, por possuírem hábitos diferentes dos seus, são anormais? Você é anormal? Qual a norma à qual devemos estar em conformidade? Onde se centra essas questões? Segundo a filosofia nas noções de eu e seus correlatos; sujeito, identidade, etc.
A noção de “EU” tão cara para filosofia racionalista, que encontra sua gênese no pensamento grego e alcança vou na modernidade, sobretudo com o “cogito” cartesiano irá sofrer transformações ao longo do tempo, com Kant o eu é uma representação, ele representa as coisas, ele é responsável pelas condições de possibilidade do conhecimento(assim com as formas a priore da sensibilidade: espaço e tempo). Contudo o próprio eu é uma representação. Kant irá transforma-lo mais complexo e racional. Somente com Schopenhauer é que o eu e sua tradição sofrerão um abalo sísmico. Nietzsche, seu aluno seguirá sua linha. Nietzsche foi o principal desencadeador do ataque ao conceito idealista de sujeito que, desde então, só cresceu em vigor. Ele procedeu à primeira desconstrução da categoria, ao defender a hipótese de que "sujeito é a ficção que pretende nos fazer crer que os vários estados similares existentes em nós são efeito de um mesmo substrato" Segundo Nietzsche (VP 1906, p. 279).
Na Sala foi tocado nos níveis de nivelamento, ou ausência de autonomia, com alguns afirmando(chupa que é de uva e algo da mesma linha). Ora na sociedade contemporânea é, por estas questões mesmas(tapa na rajada !!!!!?) ambivalente: "As mesmas novas condições em que se produzirá, em termos gerais, um nivelamento e mediocrização do homem - um homem animal de rebanho, útil, laborioso, variadamente versátil e apto -, são sumamente adequadas a originar homens de exceção, da mais perigosa e atraente qualidade" Nietzsche(ABM, p. 150). De certo modo, possui um simulacro de cultura, porque falta lhe o homem sintético: o que temos é um tipo de caos; mas por outro lado, esse é condição para a criação daquele: [Afinal] "Tu [só] o serás depois de haver passado por um grande número de individualidades, de tal modo que, em função dela mesma, tua última individualidade tenha necessidade de todas as outras", escreveu Nietzsche.(VP, p.56) Para me alongar mais e “não fazer a filosofia gritar”, como foi dito em sala uma certa vez, gostaria de propor a seguinte reflexão: a transmutação do Eu(fazendo um trocadilho com as palavras do Nietzsche) precisa ser buscada no estatuto do sujeito, que, reavaliado pelo filósofo Nietzsche, deixa de ser visto como o eu abstrato, estático e unitário. O sujeito é uma entidade fictícia pois, vendo bem, a vontade com que está associado é um resultado de um combate ou luta através do qual se estabelecem relações de comando e obediência entre as várias partes do nosso corpo.
A premissa é o corpo e esse deve ser entendido como "uma estrutura social de muitas almas" segundo Nietzsche(ABM, p. 25)28. Com efeito, o que se coloca é a noção de eu, uma ficção e sua ausência também não seria uma ficção? Pois, como foi visto, o indivíduo, e seu agregados; eu, alma etc., deve ser visto como um "sistema cujo centro se desloca incessantemente". Isto traz a tona, o que para Nietzsche seria um problema para a psicologia e áreas afim; não havendo o eu e os seus correlatos, não haveria ciência do sujeito. A construção do eu seria ao mesmo tempo sua desconstrução. Ou vice-versa. Nesta perspectiva não estaríamos fazendo algo semelhante ao que Sêneca chamou de Nihil apenhis Nihil (,nada alem de nada). A Busca pelo patológico, pelo normal não estaria associado a grande acusação de Nietzsche para os psicólogos: “a psicologia sempre esteve presa aos preconceitos morais?” Nietzsche. Se somos responsáveis pelo mundo que construímos, assim como pelas formas de existência que criamos, necessitamos avaliar constantemente nossa própria (dês)construção. Por isso, nossas atividades, nossos valores, nossas leis, nossas normas modificam-se de tempos em tempos, a fim de acompanhar as mudanças originadas nesta construção. Da mesma forma, não deveria proceder e acompanhar essa transformação o aparelho psicológico?
Se no cotidiano, normal é considerado aquele que se submete à pressão das normas, que age como se espera; "anormal" é quem foge às regras, quem busca saídas criativas. E quando construímos socialmente uma norma de comportamento que traz malefícios? E quando seguir a regra implica em abandonar os sonhos que dão sentido à existência? O que fazer? Talvez a construção de novos “EUS” esteva precisando de uma construção de novas “Psicologias”? talvez tenha sido por isto que um filosofo(Nietzsche) tenha insistido em ser considerado o primeiro dos psicólogos dos bons.

5 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Olá Salomão, venho apenas esclarescer algo quanto "Fazer a filosofia gritar", há uma passagem escrita por Gilles Deleuze e Félix Guattari no Prefácio do livro "Mil Platôs: Capitalismo e esqizofrenia", Vol 1, em que os autores escrevem o seguinte: "O pássaro de Minerva (para falar como Hegel) tem seus gritos e seus cantos; os princípios em filosofia são gritos, em torno dos quais os conceitos desenvolvem verdadeiros cantos". Quando você ouviu este comentário em sala, foi relativo a esta citação!

Salomão Santana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Salomão Santana disse...

vejam, eu fiz um comentário que abrigavam alguns erros de portugês, devido a forma como escrevir, muito rápido. Com efeito, o texto que ela comenta apresenta o mesmo problemas: engolir algumas letras e etc. . contudo, agora a pouco tentei retomar o que comentei para Tatiana, e tive que apagar pelo mesmo motivo,(ainda não sei mexer direito nas funções do blog, mas vou aprender) agora vai o comentário definitivo

Salomão Santana disse...

retificando *Português, e não portugês como se encontra a cima.
Bem, Tatiana eu conheço o texto que vc cita, e a propria citação, contudo houve um equívoco da minha parte, ok?
um abraço e até a prxm aula.